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quarta-feira, 13 de julho de 2011

Economia Criativa oferece novas possibilidades de construir cenários favoráveis à uma nova condição humana.

Economia Criativa ainda é um conceito em construção. Eu e Reinaldo Pamponet estamos escrevendo um texto a quatro mãos sobre o assunto, decorrente de nossa participação de seminário promovido recentemente pela Vivo, onde isso fica muito claro, sobretudo pela leitura atenta dos textos dos demais especialistas convidados.
Ainda não há um consenso sobre o que pode o que deve ser considerado e caracterizado como Economia Criativa. Ainda pairam dúvidas e contradições sobre alguns pilares, como direito autoral, por exemplo. Gostaria de contribuir com esse debate apresentando três dimensões interdependentes que gravitam em sua órbita.
A primeira dimensão é a economia como fenômeno cultural. Em minhas palestras sobre mercado cultural costumo apresentar o papel moeda como elemento simbólico mais importante na relação entre cultura e mercado. Quem atribui valor àquela moeda? Como todos sabemos que aquele papel tingido pode comprar tantos sacos de arroz e feijão? Tento mostrar que o lastro daquela moeda está contido apenas em uma vaga ideia de valor, atribuído por uma força tão frágil e volátil quanto aquilo que chamamos de mercado. Mas, ao mesmo tempo, é um valor absoluto, impresso, compartilhado por todos, incontestável.
Nesse sentido, penso em Economia Criativa como a porta de entrada para artistas e criadores pensarem na construção dos novos sentidos e valores que constituirão os lastros, reais e imaginários, da nossa moeda no futuro (que já pode ser vivenciado hoje por alguns). Uma abertura de diálogo para um assunto antes restrito aos poucos e bons.
A segunda dimensão é setorial. A dificuldade de definir e reunir sob o mesmo guarda-chuva os setores e atividades criativas já é, em si, um desafio que vale o ingresso. Em tese, todos os setores podem (e devem) ser criativos. Se forem sustentáveis, atuarem em rede, não forem concentradores, competitivos e gananciosos, se apostarem na subjetividade humana, no valor da convivência, toda a atividade econômica pode ser criativa. Uma possibilidade de resgatar alguns pilares como ética e o compromisso público com o bem estar social.
Não sou romântico. Estou falando de uma possibilidade, não de uma realidade.
A terceira dimensão é o dado comportamental. Ao decretarmos a falência da cultura do consumo e do espetáculo, e celebrarmos, por uma simples troca do lastro que garante o valor e o sentido das nossas moedas, a cultura da ética, da convivência, da paz, do amor e da liberdade, estaremos financiando outros modos de vida, diversos, livres, plurais. Novas tecnologias como o crowdfunding, por exemplo, nos alertam para a importância de olharmos melhor para aquilo que bancamos com o nosso dinheiro e nosso tempo livre. Devemos pagar ingresso para um filme da Fox ou para uma produção independente argentina? Assistir Jornal Nacional ou pesquisar sobre o mundo que não passa na tela da Globo, mas que muitos de nós conseguimos enxergar e compartilhar?
Economia Criativa oferece novas possibilidades de construir cenários favoráveis à uma nova condição humana. Há muitos exemplos de empreendedores que atuam com base nesses cenários, misturando inovação com quebra de paradigmas, atribuindo um novo sentido ao velho papel moeda. O sentido da vida. Outros financiam, divulgam, participam e aderem ao processo como podem.
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