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quinta-feira, 28 de julho de 2011

Eslováquia: o noivo preterido


Esqueça as trapalhadas do filme Eurotrip e os litros de sangue derramados em O Albergue. Os cineastas hollywoodianos parecem mesmo ter preferência por roteiros que colocam jovens mochileiros em busca de ôba-ôba naEuropa em apuros quando atravessam a fronteira com a Eslováquia. Quanta injustiça! Se você só conhece o país pelas telas, é hora de rever seus conceitos.
Para começar, a capital, Bratislava, é uma cidade vibrante, que sabe como poucas inspirar modernidade sem desprezar o passado. Prova desses novos tempos é a Eurovea, enorme shopping dividido em dois prédios de traçado futurista, às margens do Danúbio. De lá, barcos partem diariamente com destino às ruínas do castelo de Devin, erguido estrategicamente na fronteira com a Áustria. Em questão de minutos, o futuro vai ficando para trás... até que vira passado.
Reserve um bom tempo para visitar os sítios arqueológicos da fortificação sem pressa. Algumas ruínas datam de antes de Cristo, mas o castelo propriamente dito foi construído no século 13, sobre antigas fundações celtas e romanas.
Depois, o local foi dominado por turcos em 1683, pelas tropas de Napoleão Bonaparte em 1809 e pelos soviéticos até a queda do comunismo, em 1989. Um monumento no pé da colina, à beira de uma extensa ciclovia, lembra os eslovacos mortos pelo Exército Vermelho enquanto tentavam atravessar o Rio Moldávia para chegar à Áustria, logo ali, na outra margem. Em Devin, o sonho do capitalismo ficava mais perto e, ao mesmo tempo, tão distante.
Castelos sombrios, aliás, não faltam à Eslováquia. Na região dos pequenos Cárpatos, perto da Estrada do Vinho de Modra e a apenas 30 quilômetros de Bratislava, o renascentista Cervený Kamen é de arrepiar. Não só pelo jeito quase militar da guia que acompanha os visitantes ou pela coleção de cabeças empalhadas de veados, bisões e antílopes anexada às paredes, mas principalmente pelo frio dos ambientes, que congela os ossos e faz muita gente ter vontade de se esconder na passagem secreta que há dentro de um dos guarda-roupas.
TLSe não quer levar bronca, contenha-se. Alguns locais sequer podem ser fotografados, assim como a mobília dos nobres que viveram e caçaram ali entre os séculos 16 e 20. Um viveiro de falcões e uma espécie de masmorra reforçam os ares lúgubres da construção, pertencente ao Museu Nacional da Eslováquia.

VINHO
Perto dali, a estrada em Pezinok revela outro patrimônio nacional: o vinho. Várias vinícolas oferecem degustações de rótulos tipicamente eslovacos em châteaus do século 17. Entre eles, a Slovak National Collection of Wine, que abre de sexta a domingo, das 11h às 18h, no Castelo de Pezinok.
A degustação de três brancos e três tintos, comentada por um sommelier, custa 6,99 euros por pessoa (cerca de R$ 15), e também é possível provar as variedades livremente, por uma hora e meia, ao custo de 16,99 euros (R$ 38).
Até os eventos giram em torno da bebida, como o Grape Harvest Festival, realizado em setembro, e o Days of Open Cellars, em novembro.
Mas se você já cansou de viajar no tempo, volte ao presente provando os vinhos do Parque Elesko. O espaço abrange um restaurante, bar com adega para degustações do líquido de Baco e o Museu Zoya, com obras de Andy Warhol - entre elas, a célebre sequência de imagens de Marilyn Monroe sorrindo.
Os eslovacos valorizam muito a arte, e fazem questão de mostrar seus museus aos turistas. Nesse quesito, um grande orgulho nacional é a Galeria Danubiana, em Cunovo, com belíssimas esculturas de arte moderna espalhadas pelo jardim.
Atualmente estão em exposição no interior as telas abstratas da síria Asma Al-Assad. Em 4 de setembro tem início a mostra do criativo designer Jan Kaplický. E no dia 11 de dezembro o museu dá a largada à 2ª Danube Biennale, que reúne obras de vários jovens artistas que moram em países cortados pelo Rio Danúbio.
Por fim, aproveite o passeio pelos arredores da capital para conferir o processo de confecção da tradicional cerâmica majolika - outra obra-prima das artes eslovacas -, e depois rume para Bratislava a tempo de fotografar as atrações do centro antigo e do seu castelo no topo ainda sob a luz do dia.
Um terço da área original do centro histórico foi demolido na Segunda Guerra Mundial e nos tempos de subjugo à União Soviética. Até hoje a região apresenta conjuntos habitacionais na periferia e outros prédios de mau gosto herdados dos comunistas, como a pirâmide invertida, onde funciona a rádio estatal.
Mas a parte antiga não perdeu seu encanto. Passear por suas ruas repletas de lojinhas, restaurantes, bares com mesinhas no calçadão e gente andando pra lá e pra cá é fascinante.
Monumentos como a Igreja de Santa Elisabeth, popularmente chamada de Igreja Azul, despontam como exemplo de art nouveau. A construção, datada de 1909, apresenta mosaicos e pinturas em cerâmica. Serve de ponto de partida para os passeios a pé pelo extenso calçadão da Rua St. Michael's Michalská, considerada a mais turística de Bratislava.
Embora a maioria dos prédios apresente estilo semelhante, alguns merecem atenção especial no centro histórico, como a igreja erguida por franciscanos no século 13, em estilo gótico eslovaco. Ao lado dela, na Praça France, fica o maior monastério do país, reconstruído em estilo barroco. E mais abaixo, na Praça Hlavné Námestie, há uma igreja protestante.
Contorne a torre neogótica e alcance a Primaciálne Námestie, onde está o palácio Primaciálny Palác Radnica, de fachada cor-de-rosa. Em 1809, Napoleão bombardeou o local, mas ele continua imponente, escoltado pela estátua de São Jorge em seu cavalo com a lança no dragão.
Bratislava, aliás, tem vocação de fênix para reerguer-se das cinzas ainda mais interessante. O castelo situado no alto da cidade que o diga. Com elementos góticos, barrocos e ecléticos, ele foi incendiado em 1811 e reconstruído em 1953 para abrigar acervos de história e música do Museu Nacional Eslovaco.
Mas nem só de história vive sua gente. A noite também é animada nos bares do centro histórico, e os eslovacos adoram arriscar alguns passos de samba, merengue ou rumba como se fosse tudo a mesma coisa. Definitivamente, a globalização também chegou à menos turística das capitais centro-europeias... Mas o charme de séculos atrás permanece. Permita se apaixonar sem medo de cair em apuros ou de acordar sem os rins em um banheiro de albergue. Isso não acontecerá. Apesar da fama de mal, o país é alegre, bonitão, gentil, romântico, divorciado e ainda mantém uma relação cordial com a ex-mulher tcheca. Quer mais o quê para fisgá-lo?

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