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quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Experiência na direção de museus


Dora Silveira quer contar a história de Niterói

A historiadora Dora Silveira, 56 anos, tem no currículo os museus mais importantes da cidade. Hoje ela dirige o Museu do Ingá, que recebe cerca de 500 visitas por mês. Dora defende o interesse dos brasileiros pela cultura e acredita que cada vez mais os museus vão fazer parte do cotidiano das pessoas. Apaixonada por história, arte e por Niterói, ela aposta no amor dos niteroienses para atrair público para exposições sobre a cidade.
Quais as exposições atuais do Museu do Ingá?    
Atualmente estamos com duas belíssimas exposições de arte. Uma da Anna Letícia Quadros, artista espetacular, uma das damas da gravura brasileira. A Anna é especialmente importante para Niterói porque foi coordenadora da oficina de gravura aqui do Museu do Ingá durante quase 30 anos. Ela formou grandes artistas na cidade. A exposição mostra o melhor da produção da artista. Também estamos com a exposição “Centopéia”, do grupo Ñ. É um coletivo de artistas que fazem interferências no acervo histórico, então as obras estão no circuito do Museu, no mobiliário, nas paredes... São duas vertentes da arte, o ofício milenar das gravuras e a arte contemporânea, que se integram muito bem nesse nosso espaço, que é uma mistura do tradicional e do moderno. A terceira exposição que está acontecendo é uma exibição de fotografias da campanha republicana do Nilo Peçanha, que é nosso patrono.
Além de arte, o Museu do Ingá também tem uma forte ligação com a história. 
O lado histórico do Museu está caminhando a passos largos. Nós desenvolvemos um trabalho muito criterioso. Nosso objetivo é dar um foco na história fluminense, que é valorizada na academia, mas tem pouca coisa publicada. A cada ano escolhemos um tema de importância histórica, realizamos um colóquio com especialistas, aberto ao público, e organizamos uma publicação baseada no encontro. Em 2009, por exemplo, elegemos o político Nilo Peçanha, que foi governador do estado do Rio de Janeiro e presidente da República. Reeditamos os discursos do Nilo durante a campanha da reação republicana e montamos o livro. O livro foi feito com o apoio da Imprensa Oficial e foi distribuído para bibliotecas e escolas do Brasil inteiro. Também montamos uma exposição sobre ele, utilizando as fotos de nosso arquivo e fotos doadas pela família da dona Anita Peçanha, esposa do Nilo. Ano passado fizemos o seminário sobre Amaral Peixoto, comemorando uma doação da Celina Vargas do Amaral Peixoto. Estamos com uma parte do acervo do comandante no Museu e o livro está em fase de produção. Esse ano o tema do colóquio foi Roberto Silveira e o trabalhismo no Estado do Rio e vamos editar outro livro.
O niteroiense tem interesse na sua própria história?
Acho que existe um grande interesse, mas faltam exposições. Eu tenho a ideia de fazer uma exposição sobre a história da cidade e tenho certeza que as pessoas vão querer ver. Niterói tem uma história linda a ser contada, como na época da primeira República, onde foram abertas as avenidas e ruas. Existem planos, história, inaugurações e imagens. A fotografia estava se tornando popular. É um período muito rico de imagens. Muita gente fala que o pessoal de Niterói é muito bairrista e eu tenho que concordar. Moramos numa cidade linda e temos orgulho daqui e interesse pela nossa história.
Você atuou nos primeiros anos do MAC. Como foi trabalhar no museu mais importante da cidade?
O MAC é o museu mais famoso do Brasil (risos)! Eu fui para lá para implantar o MAC, antes mesmo da inauguração. Fui convidada pelo Ítalo Campofiorito, que na época era secretário de cultura, porque eu tinha uma larga experiência em museus. Eu fiquei oito anos lá como diretora-executiva. O projeto é grandioso e o sucesso foi tão avassalador que pegou todos de surpresa: no ano da inauguração, houve um mês em que o público foi maior do que o do Maracanã. Nos seis primeiros meses eu trabalhava de domingo a domingo. Foi um período muito interessante porque nós conseguimos fazer exposições em arte contemporânea maravilhosas, desenvolvemos um sistema educativo muito bacana e recebemos visitas fantásticas. De críticos de arte importantíssimos às pessoas mais simples, todos ficavam encantados com o prédio e com as obras.
Os brasileiros se interessam por museus?
Eu acho que os museus evoluíram muito nos últimos 20 anos. Começamos a produzir exposições mais interessantes, tivemos mais atenção da imprensa, surgiram novas oportunidades e o público aumentou. O brasileiro não vai ao museu quando ele não tem nada a oferecer. Não adianta manter só o acervo. São necessárias exposições de curta duração para o museu pulsar. Os pequenos museus e que estão fora da cidade do Rio de Janeiro também sofrem com pouco espaço na mídia. Mas, se existe uma programação que chame, seduza, não tem dúvida: o museu enche.
Você começou a trabalhar em museus antes mesmo de se formar. Como surgiu a paixão pela arte?
Quando estava me formando em história na UFF, eu vim estagiar no Museu do Ingá. Trabalhei dois anos aqui, de 1978 a 1980, e depois fui para o Museu Antônio Parreiras. Trabalhei em vários projetos de artes e fui convidada para dirigir o Antônio Parreiras em 1991. Foi uma surpresa, eu que tinha trabalhado lá voltei para dirigi-lo. É um museu com todo um charme, era a casa do artista. Em 1995, eu comecei a trabalhar no MAC também. Eu brincava que viajava um século todo dia! Mas não tive como conciliar os dois e optei pelo MAC, onde fiquei de 1996 a 2004. Depois trabalhei na fundação Oscar Niemeyer e em 2007 fui convidada para trabalhar no Museu do Ingá. Eu estava voltando para onde tudo começou.
Quais são as atividades que o Museu oferece para o público?
Temos oficina de gravura, escultura, pintura, cerâmica e serigrafia, além de palestras sobre história da arte.

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