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terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Conferência Rio+20: oportunidade e vitrine para o trabalho voluntário










Para dirigente do programa VNU, evento vai ajudar a mostrar a força da ação voluntária para o alcance do desenvolvimento sustentável


Jacob Said/Divulgação PNUD
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O programa de Voluntários das Nações Unidas (VNU) é administrado pelo PNUD e trabalha há mais de 40 anos na promoção do voluntariado. Por sua atuação, o VNU foi homenageado, no final de 2011, com o Troféu Beija-Flor, concedido pela ONG Rio Voluntário. O troféu reconhece pessoas e instituições que contribuem de forma significativa para a causa do voluntariado e o desenvolvimento. O VNU recebeu a distinção na categoria especial Rede.
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A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), que movimentará a cidade do Rio de Janeiro entre os dias 13 e 22 de junho, será um momento excepcional para que o trabalho voluntário mostre sua força e importância em eventos de grande porte. Essa é a opinião de Marco van der Ree, chefe da Área de Parcerias da Divisão de Parcerias e Comunicação do programa de Voluntários das Nações Unidas (VNU).

Ampliar o reconhecimento, segundo Ree, é um dos principais desafios que o voluntariado tem pela frente, especialmente no atual contexto, em que as discussões sobre a implantação de um modelo sustentável de desenvolvimento ganham força mundialmente. Para o dirigente, a ação voluntária, se melhor reconhecida, estimulada e fortalecida, pode contribuir fortemente com a construção desse novo paradigma.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista que Ree concedeu ao PNUD em recente passagem por Brasília. Fluente em português, conquistado depois de uma longa temporada morando e trabalhando no Brasil, o representante do VNU, que é holandês de origem, explicou como a Rio+20 pode contribuir e se beneficiar da ação voluntária. Ele também fez reflexões sobre os avanços e desafios do voluntariado em âmbito mundial.


2011 foi um ano especial para o voluntariado: a data marcou uma década desde que a ONU estabeleceu o Ano Internacional do Voluntariado (AIV+10). Quais as principais conquistas nesse período?
Bom, é um período bastante grande, mas eu acho que tivemos vários avanços nesses dez anos, tivemos um pouco mais de informação sobre como medir o que é o voluntariado, tivemos um pouco mais reconhecimento em nível global, mas fizemos justamente o AIV+10 porque ainda não tivemos conquistas suficientes e pensamos que o voluntariado ainda não foi suficientemente reconhecido em nível global. Em muitas sociedades, sim, tem mais reconhecimento, tem mais apoio do governo, tem mais apoio de entidades da sociedade civil, mas outros lugares ainda deixam muito a desejar quanto ao reconhecimento do que é o voluntariado e do que significa para a sociedade como um todo.


Entre as atividades realizadas em 2011 em comemoração ao AIV+10, há alguma em especial que o senhor destaque?
Uma coisa que nos deixou muito orgulhosos no VNU no ano passado foi o lançamento do primeiro relatório global sobre o voluntariado (State of the World’s Volunteerism Report), que foi lançado no dia 5 de dezembro, na Assembleia Geral, pela Administradora do PNUD, Helen Clark. O relatório fala sobre todos os aspectos do voluntariado em nível global - eu acho que não chegamos ao ponto de termos todas as informações necessárias, então tem um trabalho futuro a fazer, ainda mais pesquisas sobre o que significa o voluntariado - mas o relatório mostra o valor para a inclusão social, o valor do voluntariado para as pessoas, as comunidades, a coesão social, mostra como medir um pouco melhor o voluntariado dentro de estatísticas de certos países. Tivemos um trabalho com a John Hopkins University e a OIT nos últimos anos que mostra um pouco mais disso, e mostra o valor, mesmo, do voluntariado, um valor ético das pessoas, mostra que o voluntariado é uma coisa profundamente humana das pessoas, querendo ajudar o outro dentro da sua comunidade ou talvez muito além.


Que desafios ainda precisam ser enfrentados pelo voluntariado em âmbito global?
Eu acho que o que falta ainda é o reconhecimento, o que o voluntariado significa para a sociedade e o que significa dentro de um contexto de desenvolvimento sustentável. Podemos trabalhar mais com base na vontade humana das pessoas, ou seja, o voluntariado dentro de comunidades. Um exemplo muito interessante sobre isso foi um projeto na Índia que se chama Teach India. Foi um projeto de alfabetização de pessoas - adultos e crianças - de bairros pobres, populações pobres, e foi então gente de classe média, muitas vezes, com trabalho bom, com escolaridade universitária, que foi trabalhar nas escolas na periferia das cidades. Assim juntam-se as duas classes dessa sociedade indo trabalhar em conjunto, um ajudando ao outro. Assim é possível fortalecer a coesão social de uma comunidade.


Quando se fala em desastres naturais, há a impressão de que sempre é preciso ajudar de alguma forma, seja fazendo doações, seja estando no local. Como o voluntariado se encaixa nesse contexto?
O que a gente vê é que quando tem desastres, sempre tem pessoas que querem ajudar e é importante apoiar, coordenar e organizar esse apoio. Então é importante canalizar a vontade humana das pessoas que querem ajudar e coordenar e organizar. Por isso, necessitamos de mais coordenação quando há desastres. O que deu para ver agora no Japão, no ano passado, depois do terremoto e do tsunami, dentro de um período de oito meses, eu acho que o dado foi que 800 mil voluntários foram ajudar a população nessa região no norte do Japão. Visitamos a região junto com a Coordenadora Executiva do VNU em novembro e realmente o lugar foi totalmente devastado. Mas deu para ver ao mesmo tempo a capacidade humana de querer ajudar. Eu vi um trabalho muito bonito lá em que os voluntários foram dentro do desastre procurar itens pessoais, inclusive fotos das pessoas, e foram limpando cada foto, registrando cada foto numa base de dados para que os sobreviventes pudessem encontrar suas fotos antigas. Então esse foi um trabalho muito grande, porque eles tinham necessidade, eram mais de 100 mil itens, então imagine o que é cadastrar todos os itens e depois ajudar as pessoas a reencontrar suas coisas é um trabalho muito grande e não tem recursos, muitas vezes.


O que pesa mais no processo de escolha de um voluntário pelo programa VNU: a qualificação profissional ou a motivação?
Ambas são importantes para o programa VNU. Nós temos quase oito mil voluntários por ano em 130 países, dos quais uns 2,5 mil são voluntários nacionais e o resto são voluntários internacionais. Para nós, o mais importante é que essas pessoas vão para o lugar onde eles vão fazer o seu trabalho voluntário, que é um trabalho voluntário de longo prazo – seis meses, um ano, dois anos, às vezes um pouco mais – que tenham a capacidade profissional para fazer o que eles têm a fazer. Não é um posto de treinamento, não é um estágio, por exemplo, realmente esses voluntários têm que ser profissionais. Ao mesmo tempo, sem a motivação do voluntário, eu acho que não vão poder fazer o trabalho. Se vão trabalhar numa missão de paz no leste do Congo, em situações muito complicadas, as pessoas têm que ter a motivação para fazer isso, não é suficiente somente ter a qualificação profissional, porque talvez não possam aguentar, mas se eles têm a motivação eles vão querer fazer.


Que papel o voluntariado terá na Rio+20 e nos próximos grandes eventos que ocorrerão no Brasil?
Essa é uma pergunta muito interessante e tem dois aspectos fundamentais. Um, que já falamos um pouco, é sobre a necessidade de reconhecimento, o que é o voluntariado dentro do contexto de desenvolvimento sustentável, a questão da Rio+20, e como isso poderia fazer parte das discussões dos estados membros das Nações Unidas. Uma das atividades do ano passado no contexto do AIV+10 foi a conferência do Departamento de Informações das Nações Unidas, que tem anualmente uma conferência para ONGs. Chamava-se Sociedades Sustentáveis, Cidadãos Responsáveis. Então aí tentamos ter uma discussão sobre o que significa a sociedade civil dentro do contexto de desenvolvimento sustentável, o que significa engajamento cívico dentro do contexto de desenvolvimento sustentável e o que significa voluntariado dentro do contexto de desenvolvimento sustentável. E saiu uma declaração muito grande, com muitas recomendações para a Rio+20. Então esperamos que a própria conferência vai levar em conta este documento como uma das sugestões para a Conferência e esperamos que essa questão seja muito mais discutida e faça parte do documento resultado da Rio+20, e que no futuro possamos trabalhar muito mais sobre o voluntariado e desenvolvimento sustentável.

A outra parte é a de que, como para qualquer evento grande, é preciso muitos voluntários. E muitas vezes isso não é visível ou não é reconhecido. Você tem as Olimpíadas, você tem conferências grandes e tem sempre muitos voluntários atrás ajudando, então o governo brasileiro também está trabalhando neste momento já num programa de mobilização de voluntários para a Rio+20 e isso teria componentes de discussão sobre desenvolvimento sustentável na cidade do Rio com populações carentes, nas favelas, com toda a população do Rio, e tentar ter pessoas das comunidades do Rio de Janeiro trabalhando como voluntários dentro da Conferência.


Há uma estimativa de quantos voluntários deverão atuar na Rio+20?
É complicado dizer agora o número de voluntários para a Rio+20, acho que o governo está pensando em três mil voluntários. Para as Olimpíadas em Pequim, que o VNU também, junto com o PNUD, trabalhou apoiando o comitê organizador, eu acho que houve mais de 100 mil voluntários. Então você pode ver que a nossa sociedade não funcionaria sem voluntários e esses eventos também precisam de um grande número deles.






Assista ao vídeo com a entrevista completa.
 
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fonte:
http://www.pnud.org.br/cidadania/reportagens/index.php?id01=3888&lay=cid

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