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terça-feira, 4 de junho de 2013

Donos de museus discutem acesso virtual a obras de seus acervos

  • O Rijksmuseum oferece downloads grátis e em alta resolução de pinturas famosas
  • As políticas das instituições para imagens na internet variam em cada instituição

  • AMSTERDÃ - Muitos museus postam suas coleções na internet, mas o Rijksmuseum deu um passo álém e ofereceu downloads em alta resolução sem custo algum, encorajando o público a copiar e transformar as obras de arte em camisas, tatuagens e até papel higiênico, por exemplo.

    "Somos uma instituição pública, então as artes e os objetos que temos são, de certo modo, de propriedade de todos", Dibbits disse em uma entrevista. "Com a internet, é tão difícil controlar direitos autorais que decidimos que é melhor as pessoas terem uma versão em alta resolução do ‘Milkmaid’ do que uma reprodução ruim", afirmou, referindo-se à pintura de Vermeer de 1660.O museu, cuja coleção inclui obras-primas de Rembrandt, Vermeer, Mondrian e Van Gogh, já disponibilizou 125 mil trabalhos no "Rijksstudio", uma seção interativa do site. O objetivo é adicionar 40 mil por ano até a coleção inteira de um milhão de obras, que contemplam oito séculos, ficarem disponíveis, disse o diretor de acervo do Rijksmuseum, Taco Dibbits.
    Até recentemente, museus protegiam fortemente as versões digitais de suas obras, abrindo exceções apenas após pedidos da imprensa ou de historiadores, e, mesmo assim, com restrições. As razões são várias: proteger direitos autorais, manter controle sobre receitas obtidas através da venda de pôsteres e souvenirs, e evitar que ladrões façam suas próprias cópias convincentes.
    Há também o medo, como descrito pelo crítico Walter Benjamin em seu artigo "A obra de arte na era da reprodutibilidade técnica", de 1936, que um trabalho perca a sua aura ou autenticidade depois de ser reproduzido tantas vezes até se tornar familiar - barateando "Mona Lisa", por exemplo.
    Nos últimos anos, no entanto, desde que o Google Art Project começou a acumular um arquivo global de imagens com a cooperaçao de museus, e desde que a internet tornou impossível conter a onda de reproduções de má qualidade, as instituições passaram a repensar a sua estratégia.
    "Nós superamos esse obstáculo", disse Deborah Ziska, representante do National Gallery of Art, em Washington. "Não acho que todos pensem que barateamos a imagem da Mona Lisa. As pessoas superaram isso. Elas ainda querem ir ao Louvre ver a coisa real. É uma nova maneira de respeitar as imagens."
    A National Gallery, até agora, compartilhou mais de 25 mil obras com o público. "Basicamente, esse é o futuro para os museus na era da comunicação digital", disse Ziska. "Compartilhar é o que os museus precisam aprender a fazer."
    O Rijksmuseum colocou as obras online mais rapidamente porque grande parte de seu acervo remonta a épocas anteriores às leis holandesas de direitos autorais, e sua equipe teve uma oportunidade de realizar a digitalização quando o museu ficou fechado para reformas.
    "Os velhos mestres nasceram e morreram antes de termos leis de direitos autorais na Holanda", disse Paul Keller, um consultor de direitos autorais do instituto holandês Kennisland, que aconselhou o Rijksmuseum no processo. "Para os museus de arte moderna, o que eles estão fazendo seria quase impossível."
    O Rijksstudio já recebeu mais de 2,17 milhões de visitas desde que seu serviço estreou, em outubro, e cerca de 200 mil pessoas baixaram imagens. Como resultado, o Rijksmuseum venceu três prêmios do "Best of the web" ("Melhores da web", em tradução livre) no mês passado.
    Entre os museus digitais, Rijksstudio é especial porque fornece ferramentas virtuais para manipular as imagens, disse Jennifer Trant, co-fundadora do Museus da Web. O estúdio virtual pede que as pessoas evitem o uso comercial das imagens.
    As políticas dos museus envolvendo downloads variam nas diferentes instituições.
    Na National Gallery, em Londres, o acervo de 2,5 mil obras foi digitalizado para fins acadêmicos, mas o museu não forneceu downloads grátis. "Todos entendem que o acesso livre é o caminho para se seguir, mas estamos diante de um esquema de desafios conflitantes", disse Charlotte Sexton, chefe de mídia digital do museu. "Por outro lado, os museus ainda estão ganhando dinheiro através da venda de imagens. A receita, no entanto, vem diminuindo. Você tem essa preocupação comercial se intrometendo nos desejos do livre acesso."
    A Smithsonian Institution, em Washington, tem 137 milhões de obras em seus arquivos, e, desse grupo, escolheu 14 milhões para digitalizar, informou a representante Linda St. Thomas. Cerca de 86,5 mil imagens, vídeos, arquivos de áudio, jornais eletrônicos e outros materiais ficaram disponíveis na internet. Mas as imagens das obras estão todas em baixa resolução - de novo, para desencorajar o uso comercial.
    Keller e Trant disseram que, em geral, os museus ainda têm a tendência de ver suas coleções virtuais mais como uma espécie de catálogo online para o visitante do que um banco de imagens para ser utilizado para outros fins.
    Mas Dibbits, do Rijksmuseum, mantém o argumento de que deixar o público controlar as imagens é crucial para encorajar as pessoas a se relacionar com o acervo. "A ação de trabalhar uma imagem, recortá-la e observar seus detalhes mínimos faz com que você se lembre dela", ele disse.
    O museu guarda tesouros como a tela The Merry Drinker, do holandês Frans Hals Peter Dejong / AP











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