Há 35 anos, no dia 17 de fevereiro de 1979, foi inaugurado pelo então governador Roberto Santos o que hoje é considerado o primeiro Museu de Ciências da América Latina, aqui em Salvador. Infelizmente, boa parte da população ainda o desconhece, embora se encontre entre os populosos bairros do Imbuí e Boca do Rio. Lamentavelmente, não é boa a situação do histórico e belo Museu de Ciência e Tecnologia do Estado da Bahia, lugar de intensa peregrinação e divulgação científica para a população mais jovem. Está simplesmente fechado.
Parece haver então um aparente paradoxo, pois o que tem acontecido nas últimas Semanas Nacionais de Ciência e Tecnologia (SNCT) no estado, há pelo menos quase dez anos, é simplesmente uma crescente e enorme curiosidade em busca de explicações dos fenômenos da natureza por parte das crianças e jovens, além de uma enorme propaganda do governo fomentando estas atividades. Segundo dados do próprio governo da Bahia, foram mais de 32 mil visitantes em 2013, quase o dobro do ano anterior.
Por ter uma filha de 10 anos, e além da curiosidade própria da profissão, fui visitar os belos estandes do governo do estado na ultima SNCT, ocorrida em fins de outubro último, dentro de um grande shopping da cidade. Neste lugar eram apresentados vários experimentos clássicos, muitos deles com equipamentos existentes no mesmo Museu de Ciências – por exemplo, o gerador eletrostático Van de Graaff. Para quem ainda não conhece, neste particular experimento a intenção é de criar o efeito de arrepiar os cabelos de quem tocar na cúpula, isolado da terra, pois o cabelo fica eletrizado com cargas da mesma polaridade, e consequentemente cada um dos fios se repele. Fiquei impressionado com a fila de crianças e adultos desejando tirar fotos - por meio de suas câmeras e celulares altamente tecnológicos - dos cabelos eriçados sob efeito da simples ação eletrostática, além de observar muitos dos monitores, cansados mais ao mesmo tempo bastante felizes com a reação do público.
De fato, havia muitos experimentos nas mais diversas áreas, como em astronomia – tinha até um mini-planetário dentro da tenda! E outros experimentos envolvendo eletromagnetismo, robótica, fluídos, ótica, matemática, mecânica, acústica e termologia, além de novidades na área de tecnologia. Desta forma era possível encontrar diversos experimentos envolvendo reações químicas – gostei muito em particular da “Mostra de Cheiros e Sabores”. Havia também outros interessantes experimentos envolvendo geração de som, produção de eletricidade através do movimento de pedalar numa bicicleta, o princípio da pilha, experimento com jato de ar, pêndulos e ressonância, energia eólica, solar e células de (bio)combustível, entre outros.
Certamente, as estrelas desta última SNCT foram na área de robótica. O primeiro deles estava relacionado à apresentação do robozinho Nao, humanóide que utiliza sensores de movimento e foi desenvolvido pela Aldebaran Robotics, uma startup francesa - que de acordo com comentários dos presentes participou inclusive de uma recente novela global. Já o segundo era nada mais que o mascote do evento, o Robozão da Bahia, um humanóide de 2,5 metros de altura e 1,6 m de envergadura, que dançou, cantou e interagiu com o público. Este, curiosamente um produto 100% baiano, simplesmente conquistou a atenção e simpatia de pessoas de todas as idades.
Cabe então uma reflexão ao aparente paradoxo: se há publico interessado em experimentos como estes – e boa parte já instalados no Museu da Boca do Rio, se o próprio governo, em especial a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado da Bahia (Secti), agora responsável pelo Museu, considerou a SNCT como uma bem sucedida experiência de divulgação científica, porque não manter de forma permanente, com recursos apropriados, equipe e instalação adequadas o nosso Museu de Ciência e Tecnologia? Será que a cidade não mereceria um, ou mesmo dois destes museus? O segundo poderia ser no próprio Parque Tecnológico do Estado – situado na Paralela, que recentemente fez seu primeiro aniversário.
*Marcio Luis Ferreira Nascimento é professor da Escola Politécnica - Dep. de Engenharia Química e do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências da Ufba
fonte:
http://www.bahianoticias.com.br/principal/artigo/614-35-anos-do-museu-de-ciencias-da-bahia-e-10-anos-da-snct-um-aparente-paradoxo.html
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