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quinta-feira, 5 de junho de 2014

"Balanço cultural" da guerra no Iraque Leia mais: http://portuguese.ruvr.ru/news/2014_06_05/Balanco-cultural-da-guerra-no-Iraque-5657/

São poucos os países do mundo sobre os quais se diz: "São um museu a céu aberto". O Iraque está entre eles. Mais precisamente, assim foi até ao início da operação militar das forças dos EUA e dos seus aliados no Iraque em 2003. 

Babilônia, Iraque


O solo do Iraque, onde estiveram situadas civilizações antigas da Suméria, Assíria e Babilônia, está cheio de monumentos arqueológicos e histórico-culturais. Três cidades das mais antigas no planeta: Ashur, Hatra e Samarra, enfeitam o Rol da Herança da Humanidade da UNESCO. Porém, duas delas já passaram para a “lista negra” dos lugares que se encontram ameaçados pela destruição.

A conhecida e antiga Babilônia teve um destino ainda mais triste, declara o analista Serguei Demidenko:

"Sem dúvida que para o Iraque é uma importantíssima perda a destruição de fato da antiga Babilônia, em cujas ruínas atuou, durante muito tempo, uma base blindada americana com todas as consequências que daí podem advir. Para os militares americanos, a Babilônia era algo absolutamente abstrato. Uma espécie de monte de pedras sem qualquer valor estratégico, a não ser para encobrir os franco-atiradores".

É sintomático o fato de, segundo o comando da coligação no Iraque, a missão dos militares americanos na Babilônia ter sido "guardar os valores históricos dos pilhadores e de destruições acidentais". Na realidade, às ruínas da Babilônia, como assinalou depois um dos funcionários do Museu Britânico, foram causados “danos que não podem ser avaliados devido ao valor incalculável das relíquias perdidas”.

Por exemplo, foi alvo de militares vândalos uma das paredes da cidade antiga onde se conservavam tijolos com restos de escrita do século XVIII a.C.! As camadas arqueológicas, preparadas para posteriores escavações, foram enchidas de diesel e óleo. "No Iraque, as coisas não se resumiram às destruições", afirma o orientalista Boris Dolgov:

"A destruição é uma coisa. A segunda é a pilhagem de monumentos, de museus, Em Bagdá foi pilhado o Museu Nacional. Depois da invasão do Iraque, nos Estados Unidos venderam-se objetos únicos do Museu Nacional em Bagdá, nomeadamente objetos de ouro. Gostaria de frisar o seguinte: os monumentos são pilhados precisamente pelas forças que supostamente vieram trazer a civilização, a liberdade e a democracia. Mas, infelizmente, ninguém responde por isso. Os museus de Bagdá continuam a ser roubados..."

Segundo o diretor do Museu de Bagdá, os roubos de tesouros não foram feitos por nenhuma multidão, mas por pessoas que sabiam o que queriam. Ninguém tocou em qualquer cópia de gesso, mas desapareceu praticamente tudo o que tinha interesse histórico.

A tragédia do Museu Nacional em Bagdá consiste em que se tratava do único museu do mundo onde foi possível reunir testemunhos da história contínua de uma região durante meio milhão de anos. E, num ápice, o trabalho de museu que foi realizada durante cem anos, nomeadamente com a participação de funcionários do Hermitage de São Petersburgo, foi destruído. Segundo Irina Bokova, diretora-geral da UNESCO, é necessário evitar, por todos os meios, a repetição de casos semelhantes:

"A tomada de consciência da importância da herança e da conservação de objetos culturais é muito maior e tornou-se mais evidente devido aos acontecimentos nos países árabes. Uma das primeiras medidas que tomamos é apelar aos participantes do conflito que prestem atenção à necessidade de conservação da herança cultural, independentemente das causas desse conflito".

Infelizmente, como mostra a história militar atual, os apelos da UNESCO têm pouco efeito.

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