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quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Exposição 'Visões na Coleção Ludwig' reúne clássicos da arte moderna no (CCBB) de Belo Horizonte

Mostra composta por peças doadas pelo casal Peter e Irene Ludwig reúne obras de mestres como Picasso, Andy Warhol e Basquiat



Retrato de Peter Ludwig, de Andy Warhol: planos diagonais coloridos destacam foto do colecionador Peter Ludwig (1925-1996) e Irene Monheim (1927-2010) se conhecem depois do final da Segunda Guerra, em um curso de história da arte, em Mainz (Alemanha). Ele era um jovem dedicado às pesquisas estéticas, que havia sido prisioneiro de guerra nos Estados Unidos. Ela era filha de Leonardo Monheim, um dos empresários mais conhecidos da indústria do chocolate. Casaram-se e Peter assumiu a direção da fábrica do sogro, dando vazão ao gosto pelas artes, se dedicando a formar uma coleção. As primeiras aquisições são de arte antiga, mas logo o casal faz opção pelo período moderno, voltando-se para a produção que surgiu a partir dos anos 1960.

Há quem diga que nos anos 1970 o casal chegou a adquirir uma obra por dia. O legado de Peter e Irene é coleção com mais de 20 mil peças – estima-se que pode ser muito mais –, hoje abrigada em mais de 20 instituições do mundo, a maior parte concentrada no Museu de Colônia (Alemanha). Um pouco dessa história, representada por cerca de 70 obras doadas pelo casal ao Museu de São Petersburgo (Rússia), poderá ser vista a partir de amanhã na exposição Visões na Coleção Ludwig, com curadoria de Joseph Kiblitsky, Evgenia Petrova e Ania Rodriguez. Estão na mostra trabalhos de autores ilustres, modernos e contemporâneos, entre eles Picasso, Andy Warhol e Jean-Michel Basquiat. Mas também autores pouco conhecidos, como os artistas russos dos anos 1980.



Pablo Picasso, artista preferido de Ludwig, está representado na mostra com a pintura 'Cabeças grandes' “Mesclar criadores consagrados com outros pouco conhecidos é uma marca da coleção”, avisa a curadora Ania Rodriguez, lembrando que o casal apoiou e incentivou autores pouco conhecidos, que só mais tarde se tornaram importantes. “É exposição heterogênea no que diz a respeito às tendências artísticas, diversa na origem dos criadores e híbrida em suas direções”, explica. E, por isso mesmo, o público pode curtir as obras à vontade. “O importante é ir com a mente limpa, sem preconceitos, para se deixar seduzir para os diálogos que a exposição propõe”, observa Ania. A curadora acrescenta ainda que é oportunidade para especular sobre gosto, desejos, opções e papel dos colecionadores.

A mostra destaca os estímulos que motivaram as aquisições do casal. A presença de obra de Picasso registra a grande paixão de Peter Ludwig – a coleção dele é considerada a terceira mais importante do mundo sobre o artista espanhol. “Foi a admiração pelo pintor que levou Peter Ludwig a focar a coleção em ponto específico, a arte contemporânea, e voltar-se para a arte do seu tempo. Ele viu em Picasso a sensibilidade de uma época e capacidade da arte de ser uma visão do mundo, no caso do artista, do século 20”, explica a curadora. E a coleção dedicada à arte moderna, com obras doadas a instituições que tinham poucos trabalhos desse momento, é aspecto que faz o prestígio da coleção.

Um dos setores mais famosos da Coleção Ludwig é o dedicado à pop-art, em especial a feita pelos artistas Andy Warhol, Roy Lichtenstein, Tom Wesselmann, Claes Oldenburg e Robert Rauschemberg. “Foi aposta em arte inovadora, em momento que ela ainda não era reconhecida pela crítica e pelo público”, conta Ania Rodriguez. O casal Ludwig não só adquiriu obras da turma, como realizou exposições divulgando os trabalhos. “A interação com o grupo pop despertou o interesse por jovens artistas, inclusive apresentando a obra deles ao lado de autores consagrados, o que acabou se tornando marca da coleção”, acrescenta.

Um terceiro setor, presente na exposição, fundamental na coleção formada pelos Ludwig, é o neoexpressionismo. Jovens pintores que marcaram a cena dos anos 1980, entre eles George Baselitz, Markus Lupertz e Anselm Kiefer. “Como alemão, ele valoriza a arte de seu país, em especial a que busca a recuperação de uma história que supere o trauma histórico do nazismo”, observa a curadora. Passo importante, observa Ania Rodriguez, foi os colecionadores passarem a adquirir arte de lugares fora dos centros internacionais, como a Rússia, por exemplo. O casal compra não só obras modernas históricas dos anos 1920, como também dos construtivistas, mas também a produção dos anos 1980.

“Para Peter Ludwig, arte é forma de comunicação entre os povos, criação de pontes entre culturas diferentes e um modo de entender o mundo”, explica Rodriguez. A transferência das peças para museus, em 1976, foi consequência natural e solução prática para guardar o acervo, quando o volume já ocupava todas as residências e propriedades da família. Processo que veio a partir de acordos de empréstimos com várias instituições, que mais tarde se tornaram doações. A coleção continua crescendo, mas para a curadora está posto um desafio: “Deixar a coleção paralisada, objeto de estudo sobre rica experiência de colecionismo, ou fazê-la crescer com acréscimo de novos artistas?”.



Em 'Ruínas', Roy Linchtenstein mistura temas da Antiguidade com técnicas das histórias em quadrinhos Pintura A mostra traz grande número de pinturas, que sinalizam diálogos entre modernos e contemporâneos, registrando personagens e cenários cotidianos. “Considero que a pintura é importante para a arte contemporânea como foi para o século 20. Há, no início dos anos 1960, o momento minimalista e conceitual, mas seguido por retomada da pintura, o que para mim é necessidade de equílibrio de linguagem. O que o contemporâneo, os ‘neos’ e ‘pós’, têm feito é reciclar tradições com enfoque mais conceitual. O que me encanta neste caminho é como se consegue visão nova,em momento que parece que tudo já foi feito e dito”, analisa a curadora Ania Rodriguez.

Uma coleção e muitos museus

O Sistema Internacional de Museus Irene e Peter Ludwig tem como ponto de partida a criação, em 1976, de uma instituição em Colônia, na Alemanha, aberta ao público em 1986. É formado hoje por mais de 20 museus públicos, que exibem peças emprestadas ou doadas da coleção, em alguns casos alas inteiras de instituições, suprindo lacunas de acervos.

Doze deles, incluindo o de São Petersburgo, levam o nome de Irene e Peter Ludwig. Os de Colônia, Aschem, Viena, Budapeste, São Petersburgo e Pequim são dedicados à arte contemporânea. Nos chamados “museus dentro dos museus”, peças adquiridas pelo casal complementam lacunas existentes nas instituições. “Quando viajava, o casal observava também o que o museu não tinha e procurava ajudar com doações”, observa Ania Rodriguez.

Visões na coleção Ludwig
Pintura, escultura, foto e impressões. Obras de Picasso, Andy Warhol, Jean-Mitchel Basquiat, Jeff Koons, Jasper Johns, Gerhard e Richter, entre outros. A partir de quarta-feira, no Centro Cultural Banco do Brasil, Praça da Liberdade, 450, Funcionários. Todos os dias, exceto às terças-feiras, das 9h às 21h. Até 20 de outubro. Entrada franca.
 
 
fonte: @edisonmariotti #edisonmariotti http://divirta-se.uai.com.br/app/noticia/arte-e-livros/2014/08/19/noticia_arte_e_livros,158479/exposicao-visoes-na-colecao-ludwig-reune-classicos-da-arte-moderna-n.shtml

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