Ouvir o texto...

quinta-feira, 18 de maio de 2017

The silence and the scream. International Day of Museums 2017. Juliana Monteiro [i] --- O silêncio e o grito. Dia Internacional de Museus 2017. Juliana Monteiro [i]

The purpose of this text is not to bring a case study or to present concepts related to the theme proposed by the International Council of Museums (ICOM) for the international day of museums of 2017, namely "Museums and Controversial Stories: to say the unspeakable in museums ". Rather, he intends to reflect very briefly on some of the key words associated with the subject, such as "reconciliation" and "unspeakable", and their ethical and practical implications in our day to day professional life.


With absolute certainty, we must admit that it is a fascinating subject and a direct call to the institutions of memory for a debate on the different narratives that shape our contemporaneity - which is increasingly complex.

And we may wonder, perhaps a little perplexed, why, as museum professionals, it took us so long to have an international day of museums dedicated to this subject. And what are we going to achieve concretely with this movement. The debate is on the table, and it is up to us, through different actions, to understand what will come of it and what to do from it.

In ICOM's explanation of the theme [1], it is assumed that museums become places of reconciliation, as mediators in the process of making visible memories that have not been accepted or have been in the background until then. Such a proposal can be seen in many ways and executed in many other ways.

As we dwell on the idea of ​​reconciliation, we have before us the perspective that establishes museums as forums for a culture of peace and deep respect for human rights. Or, as spaces that can collaborate in establishing positive dialogues between distant and unequal social groups. In this sense, museums can even be such extraordinary places of empathy, where one can marvel and find "the other side of history", and see there an identification and beauty never before imagined.

However, we must also remember that in order to reach the status of reconcilers and become practitioners of cultural diversity (and not just the propagation of their discourse), museums must assume the non-neutrality of their place of interlocution. And for an opening to dialogue about stories never told or told, it is up to them - museums - to understand their own share of the claustrophobic, often offensive, shocking and distorted construction of what is called official history.

Reviewing the silences and cries of a museum can be a process of reconciling an institution with itself and with others. And that does not mean that an institution should accept problems of the past in a simplistic way. On the contrary, it means that it must be ready to face the consequences of acts committed in other times and to review them in an emancipatory and libertarian way. It must also understand how it is read or assumed in the face of the problems of the society of which it is a part.

An important step in such processes is the review of how collections are handled and disseminated. We have numerous examples that show us the current concern of institutions to build new perspectives on their own discourse. Perhaps one of the most emblematic cases is the Dutch Rijksmuseum, which in 2015 embarked on a controversy involving the change of titles and descriptions of more than 200,000 works to not contain any more racist or biased references. Many saw this as a praiseworthy and coherent attitude towards the museum's policy of acting in accordance with contemporary values, but others viewed it as censorship for the politically correct extreme.

Beyond the side that each of us would like to assume in this situation, it is worth noting how the "innocent" job of filling out files or databases, often with an almost aseptic technicality, can raise the most heated debates about Absences or historical presences within museums. In this way, working on the identification and classification of a cultural heritage is a political act. And this is because we document with our repertoire. And with it, with all our prejudices, our judgments, our ignorance about "others," who, deep down, may not be so far removed from "us."

Having this awareness of our "place of speech," it is worth to return here to the question of what silences and shouts will be revealed of this meeting, tense and profound, between institutions, their collections and professionals, and those whom we call representatives of "unspeakable" ". Which preconceptions will be deconstructed? What are the places that such memories, in many cases painful and suffered, will conquer within structures that until recently did not (re) know them? What will contribute to the construction of more inclusive cultural heritage? And, finally, as memory professionals, how to learn from such agents and help them tell their stories (if they so wish) so as not to incur unethical or paternalistic interpretations or positions?

Finally, there is the realization that there are no ready or beautiful answers. There are no easy formulas in this difficult world. It is hoped that, of all the experiences that will be lived within the theme proposed by ICOM, there remains the awareness that the "unspeakable" has existed for a long time and shouts to our ears that they should no longer remain indifferent. There is also a desire that we learn to listen to those who desire a more just and equal world, with fewer silences of official memory and more voices of the stories of all of us.

Google translator.
Original text in.
http://www.revistamuseu.com.br/site/br/artigos/18-de-maio/18-maio-2017/2796-o-silencio-e-o-grito.html


fonte: @edisonmariotti #edisonmariotti


Cultura não é o que entra pelos olhos e ouvidos,
mas o que modifica o jeito de olhar e ouvir. 
A cultura e o amor devem estar juntos.


Vamos compartilhar.

Culture is not what enters the eyes and ears, 
but what modifies the way of looking and hearing.


--br
O silêncio e o grito. Dia Internacional de Museus 2017. Juliana Monteiro [i]



O objetivo do presente texto não é trazer um estudo de caso ou apresentar conceitos relacionados ao tema proposto pelo Conselho Internacional de Museus (ICOM) para o dia internacional de museus de 2017, a saber, “Museus e Histórias Controversas: dizer o indizível em museus”. Ele pretende, antes, refletir, de forma muito breve, sobre algumas das palavras chave associadas ao assunto, como “reconciliação” e “indizível”, e suas implicações éticas e práticas em nosso dia a dia profissional.

Com absoluta certeza, precisamos admitir que é um tema fascinante e uma chamada direta às instituições de memória para um debate sobre as diferentes narrativas que moldam nossa contemporaneidade – que anda cada vez mais complexa.

E podemos nos perguntar, talvez um pouco perplexos, por que, enquanto profissionais de museus, demoramos tanto para ter um dia internacional de museus dedicado a esse assunto. E o que é que vamos conseguir, concretamente, com esse movimento. O debate está posto sobre a mesa, e cabe a nós, por meio de diferentes ações, entender o que virá disso e o que fazer a partir daí.

Na explicação do ICOM a respeito do tema [1], é posto que os museus se tornem lugares de reconciliação, como mediadores no processo de visibilização de memórias pouco aceitas ou que estiveram em segundo plano até então. Tal proposta pode ser vista de inúmeras formas e executada de outras tantas.

Ao nos determos na ideia da reconciliação, temos diante de nós a perspectiva que estabelece os museus como fóruns da cultura de paz e de profundo respeito aos direitos humanos. Ou, ainda, como espaços que podem colaborar no estabelecimento de diálogos positivos entre grupos sociais distantes e desiguais. Nesse sentido, museus podem mesmo ser esses lugares extraordinários e de empatia, onde uma pessoa consegue se maravilhar e encontrar “o outro lado da história”, e enxergar ali uma identificação e beleza nunca antes imaginadas.

Porém, temos que nos lembrar também que para atingirem o status de reconciliadores e se tornarem praticantes da diversidade cultural (e não apenas da propagação de seu discurso), os museus precisam assumir a não-neutralidade do seu lugar de interlocução. E que para uma abertura ao diálogo sobre histórias nunca contadas ou mal contadas, cabe a eles – os museus – compreender sua própria parcela de participação na claustrofóbica, muitas vezes ofensiva, chocante e distorcida construção do que se chama de história oficial.

Rever os silêncios e gritos de um museu pode ser um processo de reconciliação de uma instituição com ela mesma e com os outros. E isso não implica em dizer que uma instituição deve aceitar problemas do passado de forma simplista. Pelo contrário, significa que ela deve estar pronta para enfrentar as consequências de atos cometidos em outros tempos e revê-los, de forma emancipatória e libertária. Deve também entender de que forma lida ou se assume diante dos problemas da sociedade da qual faz parte.

Um passo importante dentro de tais processos é a revisão do modo como as coleções são tratadas e difundidas. Temos inúmeros exemplos que nos mostram a preocupação atual das instituições em construir perspectivas novas a respeito de seu próprio discurso. Talvez um dos casos mais emblemáticos seja o do holandês Rijksmuseum, que em 2015 embarcou em uma polêmica envolvendo a mudança dos títulos e descrições de mais de 200.000 obras para que não contivessem mais referências racistas ou preconceituosas. Muitos viram isso como uma atitude louvável e coerente com a política do museu de atuar de acordo com valores contemporâneos, porém, outros enxergaram tal ação como censura em prol do politicamente correto extremo.

Para além do lado que cada um de nós gostaria de assumir nessa situação, cabe aqui ressaltar como o “inocente” trabalho de preencher fichas ou bancos de dados, revestido muitas vezes de uma tecnicidade quase asséptica, pode levantar os mais acalorados debates a respeito de ausências ou presenças históricas dentro dos museus. Deste modo, trabalhar na identificação e classificação de um patrimônio cultural é um ato político. E isso ocorre porque documentamos com o nosso repertório. E, com ele, com todos os nossos preconceitos, nossos julgamentos, nosso desconhecimento a respeito dos “outros”, que, no fundo, podem não ser tão distantes assim de “nós”.

Tendo essa consciência do “nosso lugar de fala”, vale retomar aqui a pergunta sobre quais silêncios e quais gritos serão revelados desse encontro, tenso e profundo, entre instituições, seus acervos e profissionais, e aqueles a quem chamamos de representantes das histórias “indizíveis”. Quais pré-conceitos serão desconstruídos? Quais os lugares que tais memórias, em muitos casos doloridas e sofridas, conquistarão dentro de estruturas que até pouco tempo atrás não as (re)conheciam? O que isso vai contribuir para a construção de patrimônios culturais mais inclusivos? E, por fim, enquanto profissionais da memória, como aprender com tais agentes e ajudá-los a contar suas histórias (se assim eles quiserem) de tal modo a não incorrer em interpretações ou posturas antiéticas ou paternalistas?

Por fim, fica a compreensão de que não há respostas prontas ou bonitas. Não há formulas fáceis nesse mundo difícil. Fica o desejo de que, de todas as experiências que serão vividas dentro do tema proposto pelo ICOM, permaneça a consciência de que o “indizível” existe há muito tempo e grita aos nossos ouvidos, que não devem mais permanecer indiferentes. E fica o desejo também de que aprendamos a ouvir aqueles que desejam um mundo mais justo e igualitário, com menos silêncios da memória oficial e mais vozes das histórias de todos nós.

Tendo essa consciência do “nosso lugar de fala”, vale retomar aqui a pergunta sobre quais silêncios e quais gritos serão revelados desse encontro, tenso e profundo, entre instituições, seus acervos e profissionais, e aqueles a quem chamamos de representantes das histórias “indizíveis”. Quais pré-conceitos serão desconstruídos? Quais os lugares que tais memórias, em muitos casos doloridas e sofridas, conquistarão dentro de estruturas que até pouco tempo atrás não as (re)conheciam? O que isso vai contribuir para a construção de patrimônios culturais mais inclusivos? E, por fim, enquanto profissionais da memória, como aprender com tais agentes e ajudá-los a contar suas histórias (se assim eles quiserem) de tal modo a não incorrer em interpretações ou posturas antiéticas ou paternalistas?

Por fim, fica a compreensão de que não há respostas prontas ou bonitas. Não há formulas fáceis nesse mundo difícil. Fica o desejo de que, de todas as experiências que serão vividas dentro do tema proposto pelo ICOM, permaneça a consciência de que o “indizível” existe há muito tempo e grita aos nossos ouvidos, que não devem mais permanecer indiferentes. E fica o desejo também de que aprendamos a ouvir aqueles que desejam um mundo mais justo e igualitário, com menos silêncios da memória oficial e mais vozes das histórias de todos nós.

Nenhum comentário:

Postar um comentário