O futuro do Cante passa pelas escolas e pelo estudo, preservação e desenvolvimento deste património único da música popular e tradicional portuguesa e, por extenso, Património da Humanidade.
8 de Dezembro, 2014 - 00:50h
A UNESCO, Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, ao anunciar, no passado dia 27 de Novembro, a classificação do Cante Alentejano como Património Cultural Imaterial da Humanidade, realçou os valores da “solidariedade e fraternidade” imanentes a um canto colectivo “feito para aproximar as pessoas”. Com efeito, a cultura, popular ou erudita, não é mais do que a expressão da vida dos homens e mulheres na sua relação com a natureza, com os outros e consigo próprios, com o trabalho, e com o lazer, através dos sentimentos e emoções transmitidas nas suas obras (de arte).
Há várias teorias para a génese do cante alentejano. Desde quem lhe atribua a origem aos judeus, aos árabes (que dominaram o sul durante cinco séculos), ao teatro tradicional, à dança medieval “carole” (com coplas cantadas pelo mestre da dança e estribilho, cantado, alternadamente, pelo coro dos dançadores) ou, na teoria mais consensual entre os etnomusicólogos, à música eclesiástica. Vitorino diz que os corais alentejanos foram influenciados pelos frades da Escola Cantorum da Serra de Ossa que, segundo o padre António Marvão, “depois de terem frequentado as escolas de polifonia clássica em Évora, no século XV, muito terão contribuído para a criação ou desenvolvimento do cante alentejano, quando se deslocaram para Serpa, onde fundaram o convento dos Paulistas e as escolas de canto popular”.
8 de Dezembro, 2014 - 00:50h
A UNESCO, Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, ao anunciar, no passado dia 27 de Novembro, a classificação do Cante Alentejano como Património Cultural Imaterial da Humanidade, realçou os valores da “solidariedade e fraternidade” imanentes a um canto colectivo “feito para aproximar as pessoas”. Com efeito, a cultura, popular ou erudita, não é mais do que a expressão da vida dos homens e mulheres na sua relação com a natureza, com os outros e consigo próprios, com o trabalho, e com o lazer, através dos sentimentos e emoções transmitidas nas suas obras (de arte).
Há várias teorias para a génese do cante alentejano. Desde quem lhe atribua a origem aos judeus, aos árabes (que dominaram o sul durante cinco séculos), ao teatro tradicional, à dança medieval “carole” (com coplas cantadas pelo mestre da dança e estribilho, cantado, alternadamente, pelo coro dos dançadores) ou, na teoria mais consensual entre os etnomusicólogos, à música eclesiástica. Vitorino diz que os corais alentejanos foram influenciados pelos frades da Escola Cantorum da Serra de Ossa que, segundo o padre António Marvão, “depois de terem frequentado as escolas de polifonia clássica em Évora, no século XV, muito terão contribuído para a criação ou desenvolvimento do cante alentejano, quando se deslocaram para Serpa, onde fundaram o convento dos Paulistas e as escolas de canto popular”.
Esta Escola Cantorum baseava-se no Fabordão do século XV, canto a duas vozes paralelas, que poderia ser extraído do Cantochão ou Canto Gregoriano, cantado em uníssono (monódico), sem acompanhamento (Fabordão Rigoroso) ou do cante profano (Fabordão Livre), e na recitação musical da salmodia em uníssono, sobre um único acorde, com uma cadência polifónica a 3 ou 4 vozes (Fabordão do Séc. XVII).
Mas, se aquele investigador põe de lado a teoria do cante árabe, em virtude deste ser homofónico e predominantemente em tons menores e o cante alentejano ser polifónico e todo em tons maiores, não deixa de se interrogar quanto à possibilidade de os improvisos e ornatos na melodia cantados pelo Ponto (a voz que inicia a moda, cantando alguns compassos, que podem abranger metade da quadra) e pelo Alto (a primeira voz, uma terceira maior da melodia iniciada pelo Ponto, no máximo um compasso, abrindo caminho às segundas vozes do coro, os “baixões”) poderem ser “reminiscências dos milismas dos solos dos cantadores árabes”
Até meados do século XX, no Baixo Alentejo, eram as vozes das mulheres que expunham “a primeira metade da melodia, completada pela união de todas as vozes cantando em terceiras e em oitavas; seguidamente, na segunda estrofe, as mulheres retomam sozinhas a melodia; finalmente, cantando em terceiras e oitavas, por vezes em sextas, o coro repete a peça a partir do princípio”, segundo a descrição de Michelangelo Lambertini, citado por J. Ranita da Nazaré, in Música Tradicional Portuguesa – Cantares do Baixo Alentejo. Com a mecanização dos trabalhos agrícolas, as “modas” passaram a ser mais cantadas nas tabernas, onde raramente entravam mulheres, e os grupos foram-se masculinizando. Mas as mulheres resistiram e continuaram a cantar na vindima, na apanha da azeitona, nas festas e convívios, e nos anos 80 formaram-se vários grupos corais femininos.
Outro mito, a par do Cante como polifonia de homens, é o canto puramente “a capella”, quando na verdade, até há pouco tempo, o Cante Alentejano era, por vezes, acompanhado pela viola campaniça, esse singular cordofone de arame que, em 1962 chegou a ser dado como extinto pelo etnomusicólogo Ernesto Veiga de Oliveira.
Hoje, como se pode ver nesse maravilhoso e emocionante documentário de Sérgio Tréfaut, “Alentejo, Alentejo”, há imensos jovens a dedicarem-se, de alma e coração, ao Cante, aliando as modas tradicionais ensinadas pelos mais velhos a novos temas da atualidade social, mas sempre sem perder o carácter lírico e sentimental do Cante Alentejano, herança árabe, por certo.
O futuro do Cante passa pelas escolas e pelo estudo, preservação e desenvolvimento deste património único da música popular e tradicional portuguesa (tão maltratada por contrafações “pimbas” promovidas por algumas estações de rádio, televisão e outros veículos da ignorância e alienação coletiva) e, por extenso, Património da Humanidade.
Até meados do século XX, no Baixo Alentejo, eram as vozes das mulheres que expunham “a primeira metade da melodia, completada pela união de todas as vozes cantando em terceiras e em oitavas; seguidamente, na segunda estrofe, as mulheres retomam sozinhas a melodia; finalmente, cantando em terceiras e oitavas, por vezes em sextas, o coro repete a peça a partir do princípio”, segundo a descrição de Michelangelo Lambertini, citado por J. Ranita da Nazaré, in Música Tradicional Portuguesa – Cantares do Baixo Alentejo. Com a mecanização dos trabalhos agrícolas, as “modas” passaram a ser mais cantadas nas tabernas, onde raramente entravam mulheres, e os grupos foram-se masculinizando. Mas as mulheres resistiram e continuaram a cantar na vindima, na apanha da azeitona, nas festas e convívios, e nos anos 80 formaram-se vários grupos corais femininos.
Outro mito, a par do Cante como polifonia de homens, é o canto puramente “a capella”, quando na verdade, até há pouco tempo, o Cante Alentejano era, por vezes, acompanhado pela viola campaniça, esse singular cordofone de arame que, em 1962 chegou a ser dado como extinto pelo etnomusicólogo Ernesto Veiga de Oliveira.
Hoje, como se pode ver nesse maravilhoso e emocionante documentário de Sérgio Tréfaut, “Alentejo, Alentejo”, há imensos jovens a dedicarem-se, de alma e coração, ao Cante, aliando as modas tradicionais ensinadas pelos mais velhos a novos temas da atualidade social, mas sempre sem perder o carácter lírico e sentimental do Cante Alentejano, herança árabe, por certo.
O futuro do Cante passa pelas escolas e pelo estudo, preservação e desenvolvimento deste património único da música popular e tradicional portuguesa (tão maltratada por contrafações “pimbas” promovidas por algumas estações de rádio, televisão e outros veículos da ignorância e alienação coletiva) e, por extenso, Património da Humanidade.
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