O mundo das artes há tempos não via tanta expansão imobiliária. Em vários pontos dos Estados Unidos, há um boom na construção de museus e galerias, enquanto na Europa, muitas instituições artísticas resistem dentro e fora das capitais enforcadas com a crise econômica.
Image copyrightImage captionFundação Louis Vuitton,
em Paris, foi projetada pelo arquiteto Frank Ghery
Em maio, o Whitney Museum abriu um novo endereço em Nova York, atraindo elogios da crítica e uma multidão de visitantes. Não muito longe dali, o Metropolitan, o Museu de Arte Contemporânea (MoMA) e o Museu de História Natural estão todos em reforma, enquanto o Studium Museum, no Harlem, acaba de anunciar que fará um novo prédio. E Los Angeles ganhou o Museu Broad, de arte contemporânea.
No ano passado, a Europa nos trouxe a Fundação Prada, em Milão, a Fundação Louis Vuitton, em Paris, e o museu de arte contemporânea Garage, em Moscou. Em Sydney, o Museu da Austrália está em obras, enquanto Abu Dhabi e Helsinque se preparam para receber versões do Guggenheim.
Image captionAtualmente, museus são projetados
com amplos espaços centrais, como naves de igrejas
com amplos espaços centrais, como naves de igrejas
Foi no fim da década de 90 que muitos desses "templos" à arte surgiram, catalisados pela inauguração do Museu Guggenheim de Bilbao, um polêmico edifício projetado pelo arquiteto Frank Gehry.
E uso a palavra "templo" deliberadamente: se igrejas e catedrais antes ficavam no topo da hierarquia arquitetônica, hoje um museu é o tipo de construção que todo bom arquiteto sonha em desenhar.
Ao contrário do que faziam os Médicis durante a Renascença italiana, a aristocracia do século 21 não coloca mais tanto dinheiro em instituições religiosas – mas um novo museu, especialmente um que ofereça direitos de nome, pode atrair o tipo de orçamento que antes seria reservado a uma catedral.
Em termos de ambição arquitetônica, museus são as novas igrejas, e isso é quase óbvio. Mas quem são os sacerdotes desses novos templos, e que tipo de adoração acontece nesses espaços?
Estilo imaculado
Se museus se tornaram a mais eminente forma de construção, isso não é só porque o papel das igrejas entrou em declínio nos últimos séculos e algo tinha que substituí-las.
Pelo contrário, a mudança no valor dado à arquitetura de um museu reflete uma mudança no lugar da arte dentro da sociedade, e em seu papel na formação dessa sociedade.
Antes das convulsões sociais do século 18, a arte secular europeia era abrigada em coleções particulares de membros da realeza, como nas galerias Borghese e Doria Pamphilj, em Roma. Eram lugares de decoração suntuosa, que glorificavam os soberanos ou aristocratas que eram seus donos , e não tinham função pública alguma.
No século 19, principalmente na Grã-Bretanha e na Alemanha, os museus eram fundados explicitamente para servirem como locais de aperfeiçoamento ético e social. Isso foi dramatizado pela arquitetura desses edifícios, principalmente instituições grandiosas como o Museu Victoria e Albert, de Londres.
Mas no século 20, a contemplação estética se tornou uma virtude, e a arquitetura dos museus também mudou. O Museu Municipal de Haia, na Holanda, projetado pelo holandês H. P. Berlage e aberto em 1935, foi a primeira instituição de arte com um estilo verdadeiramente modernista. Sua planta baixa gradeada, as paredes imaculadamente brancas e uma passarela que separa a cidade "profana" do museu "sagrado" refletiam o novo espírito da época.
E todas as transformações dos últimos 80 anos praticamente não atingiram a supremacia dos espaços puros, nos quais as obras de arte são iluminadas por luzes cuidadosamente calibradas contra um fundo absolutamente limpo. Até mesmo o Garage, recém-inaugurado em Moscou para abrigar murais da era soviética, insiste nas paredes brancas.
O estilo clean é apenas a alegoria mais óbvia pela qual a arquitetura dos museus adotou uma característica religiosa. Outro elemento são os átrios gigantescos que diminuem o visitante em um espaço sem uma função aparente, como a nave de uma basílica. Foi o que Frank Gehry fez no Guggenheim de Bilbao e na Fundação Louis Vuitton, ou o escritório Herzog & de Meuron escolheu para a Tate Modern, em Londres, para citar apenas alguns exemplos.
A escala cada vez maior dos museus de arte e seu crescente destaque no planejamento urbano também são relevantes: os planos para o novo Museu de Arte do Condado de Los Angeles são tão grandiosos que o prédio vai cruzar o Wilshire Boulevard e pairar sobre a cidade apenas como um templo ou um palácio real poderia ter feito em séculos passados.
Comportamento eclesiástico
O museu de arte pode ter suplantado a igreja como o ponto alto da ambição arquitetônica, mas uma mudança mais curiosa pode estar ocorrendo do lado de dentro dessas instituições.
Hoje em dia, nós frequentemente usamos a linguagem religiosa para falar de arte. Fazemos "peregrinações" a museus e monumentos artísticos; vivenciamos uma "transcendência" diante de quadros e instalações importantes ou de larga escala; obras particularmente famosas, como a Mona Lisa, no Louvre, são apresentadas isoladamente, para adoração. E qual o dia mais movimentado da semana em um museu? O domingo, o dia que antes era reservado às missas.
O legado do Iluminismo, para o bem ou para o mal, é que apenas o conhecimento racional e secular conta como verdade hoje em dia.
Os museus, não apenas os de arte, mas os de ciências e história, estiveram devotos a essa forma de verdade por muito tempo. Mas parece que cada vez mais, essa era inspirada na Ciência está passando.
Os gigantescos átrios envidraçados em Paris e Abu Dhabi estão mais alinhados com o espírito dos novos tempos, que agora aspiram uma nova forma de verdade – algo mais vago, mas mais reconfortante para estetas munidos de seus smartphones.
Jason FaragoDa BBC Culture
fonte: @edisonmariotti #edisonmariotti http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/09/150928_vert_cul_museus_igrejas_ml
Cultura e conhecimento são ingredientes essenciais para a sociedade.
--in
The world of art has long not seen so much real estate expansion. At various points in the United States, there is a boom in the construction of museums and galleries, while in Europe, many art institutions resist inside and outside the capital hanged with the economic crisis.
Image copyrightImage captionFundação Louis Vuitton,
in Paris was designed by architect Frank Gehry
In May, the Whitney Museum opened a new address in New York, attracting critical acclaim and a multitude of visitors. Not far away, the Metropolitan, the Museum of Contemporary Art (MoMA) and the Natural History Museum are all under renovation, while the Studium Museum in Harlem, today announced that it will make a new building. And Los Angeles won the Broad Museum of Contemporary Art.
Last year, Europe Prada Foundation brought in, in Milan, the Foundation Louis Vuitton in Paris and the Museum of Contemporary Art Garage in Moscow. In Sydney, the Australian Museum is in the works, while Abu Dhabi and Helsinki are preparing to receive versions of the Guggenheim.
Image captionAtualmente, museums are designed
with large central spaces such as churches ships
It was at the end of the 90s, many of these "temples" to art emerged, catalyzed by the inauguration of the Guggenheim Museum Bilbao, a controversial building designed by architect Frank Gehry.
And I use the word "temple" deliberately: if churches and cathedrals once stood on top of the architectural hierarchy, now a museum is the type of construction that every good architect dreams of drawing.
Contrary to what were the Medici during the Italian Renaissance, the 21st century aristocracy do not load so much money on religious institutions - but a new museum, especially one that offers naming rights, can attract the kind of budget that before would be reserved for a cathedral.
In terms of architectural ambition, museums are the new churches, and this is almost obvious. But who are the priests of these new temples, and what kind of worship takes place in these spaces?
Immaculate style
If museums have become the most eminent form of construction, it is not only because the role of the churches has declined in recent centuries and something had to replace them.
On the contrary, the change in the value given to the architecture of a museum reflects a change in the place of art in society, and their role in creating that society.
Before the social upheavals of the 18th century, European secular art was housed in private collections of royalty, as in galleries Borghese and Doria Pamphilj in Rome. Were places of sumptuous decor that glorified the rulers or aristocrats who were its owners, and had no public service at all.
In the 19th century, especially in Britain and Germany, the museums were founded explicitly to serve as places of ethical and social improvement. This was dramatized by the architecture of these buildings, especially grandiose institutions such as the Victoria and Albert Museum, London.
But in the 20th century, the aesthetic contemplation became a virtue, and the architecture of museums has changed. The Municipal Museum of The Hague, Netherlands, designed by Dutch HP Berlage and opened in 1935, was the first institution of art with a truly modernist style. Its floor plan barred, the immaculately white walls and a walkway that separates the city "profane" museum "sacred" reflected the new spirit of the age.
And all changes in 80 years barely reached the supremacy of pure spaces in which works of art are lit by lights carefully calibrated to an absolutely clean background. Even the Garage, newly opened in Moscow to house murals of the Soviet era, insists on the white walls.
The clean style is only the most obvious allegory in which the architecture of the museum adopted a religious character. Another element is the huge atrium that decrease the visitor in an area without an apparent function, as the nave of a basilica. That's what Frank Gehry's Guggenheim did in Bilbao, and the Foundation Louis Vuitton, or Herzog & de Meuron chose for the Tate Modern in London, to name just a few.
The increasing range of art and its increasingly prominent museums in urban planning are also relevant: the plans for the new Los Angeles County Museum of Art are so great that the building will cross Wilshire Boulevard and hover over the city only like a temple or a royal palace could have done in centuries past.
Ecclesiastical behavior
The art museum may have supplanted the church as the highlight of architectural ambition, but a more curious change may be taking place inside these institutions.
Nowadays, we often use religious language to talk about art. We make "pilgrimages" to museums and artistic monuments; we experience a 'transcendence "in front of paintings and important installations or large scale; particularly famous works such as the Mona Lisa in the Louvre, are presented separately for worship. And what is the busiest day of the week in a museum? Sunday, the day before was reserved for church services.
The legacy of the Enlightenment, for better or for worse, is that only the rational and secular knowledge counts as true today.
Museums, not just the art, but science and history, were devoted to this form of truth for long. But it seems that increasingly, that was inspired by the science is going.
The huge atrium glazing in Paris and Abu Dhabi are more aligned with the spirit of the times who now aspire to a new form of truth - something more vague, but more comforting for aesthetes armed with their smartphones.
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