“Items: Is Fashion Modern?”, a anunciada exposição do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, vai reunir no mesmo evento o papel das sapatilhas Nike, dos jeans Levi’s 501, das botas Dr. Martens e do relógio Casio como baluartes da moda dos séculos XX e XXI – assinalando ainda a entrada do MoMA naquele universo criativo.
Apesar da recente popularidade das exposições de moda – que têm trazido aos museus números recordes de visitantes –, caso de “Alexander McQueen: Savage Beauty” e “China: Through the Looking Glass”, há uma instituição que tem evitado dissecar o contributo histórico e social deste campo do design: o Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA, na sigla original).
«Historicamente, o museu escolheu de forma deliberada não envolver a moda nas suas galerias ou repositórios, ciente dos termos antimodernos com os quais ela é muitas vezes ridicularizada: efémera, sazonal, passageira», escreveu a curadora de Arquitetura e Design do MoMA, Paola Antonelli, numa publicação online na passada semana.
A i-D recorda, porém, que, no ano passado, as coleções de arquivo de Hussein Chalayan e Eckhaus Latta foram incorporadas em mostras do museu.
Não obstante as declarações de Antonelli, o MoMA irá explorar os meandros do design de moda na exibição “Items: Is Fashion Modern?”, que abre portas apenas em dezembro de 2017, mas está já a marcar a atualidade dos portais da especialidade.
A exposição vai confrontar o passado, presente e futuro de 99 artigos de moda – desde os icónicos jeans 501 da Levi’s às intemporais botas Dr. Martens – através de diferentes prismas sociopolíticos.
“Items: Is Fashion Modern?” irá analisar o impacto desses marcadores em três camadas: arquétipo (os materiais contextuais que traçaram o seu desenvolvimento ao longo da história), estereótipo (a encarnação mais representativa do significado do item) e, em alguns casos, o protótipo (uma nova abordagem recolhida em investigações externas do museu).
«Por exemplo», escreveu Antonelli, «se o vestido envelope de 1974 de Diane von Furstenberg representa o estereótipo desta forma de design no século XX, “Itens” voltará atrás no tempo através de exemplos como o “Taxi Dress” de Charles James, em 1932, até ao arquétipo do quimono».
E, se no decurso das investigações externas da mostra, surgir uma nova abordagem, à peça, «identificada como potencial repositório de transformação tecnológica, formal, económica ou social», o museu passará a incorporá-la na exposição.
Apesar de a inauguração da exibição estar agendada para o final de 2017, nos próximos dias 15 e 16 de maio, o MoMA vai acolher um evento – que reunirá designers-chave, curadores, críticos, académicos, ativistas e empresários – para marcar o arranque das investigações externas que motivarão parte da mostra.
Segundo Paola Antonelli, o evento vai abrir com um debate que procura perceber em que medida os designs moldam os utilizadores e o ambiente onde estes estão inseridos.
Seguir-se-á depois um “abecedário”, no qual 26 peças icónicas de vestuário – uma para cada letra do alfabeto – serão examinadas em apresentações de sete minutos, começando com “Air” em Tinker Hatfield, reputado designer de calçado desportivo e vice-presidente de conceitos criativos na Nike.
O fundador da Pyer Moss, Kerby Jean Raymond, irá juntar-se ao ativista DeRay McKesson para discutir a letra “H” para “Hoodie” (ver Das ruas para a alta). E a designer Mary Ping, da Slow and Steady Wins the Race, e a consultora de sustentabilidade Carmen Artigas vão considerar as questões de trabalho, género e economia em “R” para “Rana Plaza”. Este “abecedário” será transmitido em direto no website do MoMA.
Guiada sobretudo por objetos, e não por designers, “Items: Is Fashion Modern” conflui numa consideração sobre as «muitas relações entre forma e funcionalidade, etiquetas culturais, estética, política, trabalho, identidades, economias e tecnologia».
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