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segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Enquanto o Brasil está de vento em popa desfrutando da abertura de editais e financiamentos públicos para a cultura, Portugal segue no sentido oposto, lamenta Moutinho.


Sem Ministério da Cultura há um ano, Portugal vive decadência na área da cultura com cada vez menos recursos para produções e projetos culturais. A cultura no país passa por um “processo de empobrecimento”, admitiu o reitor da Universidade Lusófona, Mario Moutinho.



“O panorama em Portugal está negro, é um desestímulo total. O orçamento para a área da cultura é irrelevante”, disse ao Opera Mundi, Moutinho que esteve no Rio de Janeiro, nesta última semana, para participar do Encontro Internacional Museus de Cidade.

“O clima dos dois países é completamente oposto. O Brasil está a viver ainda um momento de grande ascensão com novos projetos e com políticas mais inteligentes. E em Portugal está a haver uma grande retração. Neste momento, não existe uma política de desenvolvimento e sim de retirada de recursos do trabalho e passá-los ao pagamento de juros internacionais. É um descalabro. Nunca o país pagou tantos impostos e nunca os impostos produziram tão poucas benfeitorias”, criticou o reitor.

Governo está abrindo mão de seus museus

Moutinho que já foi assessor principal no Museu Nacional de História Natural de Lisboa afirma que o governo português está abrindo mão de seus museus e entregando-os a autarquias, aos municípios, que contam com ainda menos recursos para mantê-los. A iniciativa da rede portuguesa de museus, criada na década de 90, que reunia 130 museus e apoiava parcerias e projetos foi dissolvida e todas as pessoas demitidas.

“A rede de museus foi liquidada. É desolador terem matado a iniciativa. Neste momento, estão a despedir todos os diretores dos museus de Estado. O investimento do governo na área da cultura é irrelevante. A miséria está partilhada”, ressaltou Moutinho.

Em Portugal há 1.400 museus, dos quais apenas 30 estão sob a administração do governo e o restante são de autarquias ou associações. Grande parte deles foi criado depois da Revolução dos Cravos, dia 25 de abril de 1974, com a derrubada do regime salazarista. Nestas últimas três décadas, houve um boom de criação de museus.

“Sem grande filosofia por trás. De fato, estamos num momento em que a governança da cultura é uma comissão em extinção, uma comissão liquidatária das estruturas que existiam no domínio da arqueologia, do teatro, do cinema e da museologia. É um momento em que estão a fechar as portas de tudo. A indústria cultural está em decadência pois havendo menos recursos, há menos produções”, acrescentou o reitor da Universidade Lusófona.

Cenário obscuro a curto prazo

Moutinho afirma que não consegue visualizar uma melhora a curto prazo e se mostra bastante pessimista. “O país está preso às políticas financeiras internacionais. Quem souber quando isso vai acabar ganha o Prêmio Nobel. Não há dúvida que a tendência e de continuar a agravar-se”.

No entanto, o museólogo vê alternativas como cooperações e parcerias entre países como o Brasil. A cada ano, muitos brasileiros rumam a Portugal para aperfeiçoar seus estudos na área da museologia. Enquanto no Brasil faltam profissionais qualificados, em Portugal, sobram.

“No âmbito da formação em museologia, a articulação com o Brasil é essencial. Temos alunos do Brasil que vão fazer cursos na Universidade Lusófona. Neste sentido, estamos a nos beneficiar das políticas do Brasil que mudaram o contexto e agora há uma grande necessidade de profissionais. Essa parceria é um balão de oxigênio num momento em que há retração”, admitiu.

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