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segunda-feira, 12 de maio de 2014

Instituições públicas e privadas de Florianópolis cultivam acervo valioso de artistas catarinenses

Fora dos cofres e distante das paredes dos museus e galerias de arte, Florianópolis possui acervos valiosos assinados pelos mais importantes artistas plásticos catarinenses, a decorar salas e corredores de instituições públicas e privadas. Telas de Meyer Filho, Rodrigo de Haro, Willi Zumblic, Valda Costa, Eli Heil. Painéis de Martinho de Haro. Tapeçarias de Pedro Paulo Vechietti. Entre outras obras, há algumas assinadas por brasileiros e estrangeiros que por aqui deixaram suas influências, como Tarcila do Amaral, Di Cavalcanti e Jean Baptiste Debret.
Divulgação

Obra de Martinho de Haro faz parte do acervo da sala do governador do Estado



Mantenedor do maior acervo público catarinense, o Governo do Estado também é a instituição com maior número de quadros fora do catálogo de museus. Enquanto o Masc (Museu de Arte de Santa Catarina) possui mais de mil obras, o Estado coleciona um patrimônio artístico que chega aos 300 títulos. A maior parte das produções está na Casa Civil e Casa da Agronômica, mas há obras cedidas à todas as secretarias, fundações e autarquias. As mais valiosas enfeitam os gabinetes do governador, vice e secretários.

A maior parte dos itens do Governo pertencia ao extinto Besc (Banco do Estado de Santa Catarina). A aquisição aconteceu quando a instituição financeira foi incorporada ao Banco do Brasil em 2008. O conjunto das obras, de valor estimado em R$ 1 milhão, foi retirado das agências e distribuído entre os prédios públicos do Estado. Mas, diferente dos objetos de arte dos museus, estes objetos, embora sejam de instituição pública, não são de responsabilidade da FCC (Fundação Catarinense de Cultura) e não têm um profissional específico para zelar pela sua conservação. Acontece que, diante da importância artística e histórica destas peças, alguns servidores abraçaram a causa e assumiram a responsabilidade de cuidar delas.

Por estarem em espaços “não abertos ao grande público” as obras permanecem apenas ao alcance do olhar de funcionários e visitantes, ficando expostas a condições não adequadas de luz e temperaturas o que pode acelerar a sua decomposição. Por esse motivo, a servidora pública Sônia Margarete Fraga Machado assumiu o compromisso de catalogar e restaurar as obras do acervo do governo. “Eu sempre me interessei por arte e quando essas obras chegaram ao Centro Administrativo notei que muitas estavam danificadas pela luz e pelo calor. Algumas, como os painéis do Martinho de Haro estavam craqueladas, outras estavam tomadas por cupins”, lembra.

A partir dessa constatação levou técnicos da Atecor (Ateliê de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis) da FCC, onde também fez um curso de restauração. 

Com as obras restauradas e de volta às suas salas, Sônia deu início ao processo de catalogação, para que seja de conhecimento público o exato lugar de cada uma. Entre as mais relevantes, ela cita o painel gigante do folclore açoriano pintado por Martinho de Haro na Cada D’Agronômica e um quadro histórico de Willi Zumblic da Serra do Rio do Rastro, quando o caminho era apenas uma picada. No Centro Administrativo, os holofotes são para as do gabinete do governador, onde uma tapeçaria de Tirelli permanece na parede de trás da mesa, e na lateral há uma série três quadros de Meyer Filho e outra de Martinho de Haro.

Na época, pensando na conservação e possibilidade de mais visualização das peças, a servidora que hoje está “emprestada” para a Defesa Civil Estadual, sugeriu em projeto que o material fosse levado a um espaço expositivo. “São obras de valor histórico muito grande, mas há uma limitação de acesso e só quem circula por esses ambientes acaba conhecendo. Apesar de restauradas, continuam em local inadequado e a sugestão era para que fossem colocadas reproduções no seu lugar e elas levadas a um museu”, comenta.

Pela conservação da história

Com acervo de pouco mais de 10 obras, mas com nomes de peso, como os catarinenses Eli Heil, Martinho de Haro, Valda Costa e Hamilton José Machado, a paulista Tarsila do Amaral, a uruguaia Elena Castellanos, e o francês Debret, a Secretaria de Estado da Fazenda, também tem seu “curador” voluntário. O interesse de Edson Murilo Prazeres, do analista da Receita Estadual pelas obras, faz parte de um longo processo de conservação cultural dos bens e da memória da pasta.

Autor de três publicações sobre o cinquentenário do Palácio das Secretarias, no Centro, as campanhas do ICMS e os 175 anos da Secretaria de Estado, Prazeres é um defensor da retomada do antigo prédio, hoje utilizado pela prefeitura de Florianópolis pelo Pró-Cidadão, para reativação do Memorial da Fazenda. O espaço cultural foi inaugurado em dezembro de 2002, na gestão de Espiridião Amim, e fechado pouco mais de um ano depois, quando Luiz Henrique da Silveira assumiu o governo. O material que estava em exposição foi enviado a uma pequena sala, na sede do governo na SC-401.

Enquanto o projeto de reativação do memorial não é aprovado, ele cuida da manutenção do material e mantém aberta a visitação virtual do acervo histórico e artístico na página www.sef.sc.gov.br/criacao-do-memorial. “A ideia é levar crianças para conhecer a História da Fazenda, o cofre do tesouro, os documentos e apólices antigos e ter um espaço para exposição das obras de arte. Estou com 33 anos de casa, quase me aposentando, mas vou batalhar por isso até meu último dia”, comenta.

Valor histórico incalculável

Agente importante no de fomento à cultura catarinense o BRDE (Banco Regional do Desenvolvimento do Extremo Sul), além de manter o Espaço Cultural Governador Celso Ramos, mantém um acervo expressivo nas paredes institucionais. Ao todo são 124 obras, de 87 artistas, a maioria catarinense, de diversas correntes artísticas.

Obras de Vera Sabino, Cipriano, Eli Heil, Martinho de Haro, Tercio da Gama e Joel Figueira estão entre as dezenas espalhadas pelo prédio da Hercílio Luz. “Elas estão em todos os setores, em gabinetes e áreas de convivência, e esporadicamente a gente faz releitura e as coloca na área térrea, que é com certeza a mais valorizada do banco”, reitera o superintendente do BRDE em Santa Catarina, Nelson Ronnie.

Como o banco não tem pretensão de vendê-las, não há uma atualização de valores do material, existe apenas a estimativa de ultrapassar os R$ 150 mil. “O valor histórico é incalculável, se simplesmente convertermos a moeda, a obra de Martinho de Haro, de 1968, custaria hoje, algo como R$ 52”, conta Ronnie.

Acervo modernista

Herança cultural da família Hoepcke, o acervo do Istituto Carl Hoepck é formado por peças, móveis e obras de arte adquiridos pela matriarca, D. Ruth. “Há um recorte interessante dos modernistas de Santa Catarina, de grande representatividade nas décadas de 1970 e 1980”, comenta o superintendente do espaço, Max José Müller.

Na lista de artistas desse movimento, constam Eli Heil, Martinho de Haro, Meyer Filho, Rodrigo de Haro, Vera Sabino, Willy Zumblick, Durval Pereira. Mas há presença de nomes do näif com criações de Loly Hosterno, Nini, Neri Andrade, entre outros. Há ainda, tapeçaria de Pedro Paulo Vechietti e outras obras datadas dos séculos 19 e 20. O instituto fica na antiga casa da família e está aberto a visitação mediante agendamento pelo telefone (48) 32222580.

Destino incerto as obras

Com pinturas de Rodrigo de Haro, Meyer Filho, Silvio Pleticos, Eli Heil, Hassis, entre outros artistas, o acervo particular do Clube Doze de Agosto está entre os mais importantes da cidade e já figurou entre os mais mal conservados. Em 2011, conforme matéria publicada no Notícias do Dia, os quadros adquiridos no final dos anos 1970, permaneciam empilhados em uma sala do clube. Na época, havia em posse do clube, cerca de 20 obras avaliadas em RS 300 mil. O presidente do clube - que foi interditado em abril de 2013, e passa por uma polêmica referente a sua venda - Wilson José Marcinko, não foi encontrado e nem retornou as ligações à reportagem para falar sobre o acervo.

Catalogação do acervo

Hoje, no Brasil, não há registros sobre o número de obras de arte nos acervos particulares. Segundo coordenador de sistema de museus da FCC, o que está em processo é o Inventário Nacional de Museus, que pretende levantar o acervo de todos os museus do Brasil, entre eles, dos 192 catarinenses.

“Há uma proposta do Ibram (Instituto Brasileiro de Museus) uma proposta para fazer um Inventário Nacional de Bens Culturais, que visa identificar, registrar e tombar os acervos museológicos que estejam fora do sistema público”, comenta o museólogo. A ideia, segundo ele, não é de apropriação sobre o bem privado, mas uma forma de garantir a permanência desse material em território nacional, e de se evitar que obras que registram a história do país sejam vendidas a colecionadores e museus estrangeiros, a exemplo do “Abapuru”, obra clássica do modernismo brasileiro, pintada por Tarcila do Amaral, que foi vendido ao MALBA (Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires).

@edisonmariotti - #edisonmariotti

fonte:http://ndonline.com.br/florianopolis/plural/165463-obras-de-artistas-catarinenses-estao-no-acervo-de-instituicoes-publicas-e-privadas-de-florianopoli.html

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