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terça-feira, 9 de junho de 2015

Há milhares de peças arqueológicas esquecidas num museu fechado há anos

Museu Hipólito Cabaço, em Alenquer, está fechado há cinco anos por problemas de infiltrações. Família do arqueólogo contesta “esquecimento” de espólio com mais de 13 mil peças que foi doado ao município.


O modo como o Município de Alenquer tem tratado o espólio deixado por Hipólito Cabaço, um dos mais reputados arqueólogos portugueses do século passado, está a gerar muitas críticas.

Familiares do investigador (falecido em 1970) lamentam a forma como a autarquia fechou, em Junho de 2010, o Museu Municipal com o seu nome, onde estava exposta parte da colecção de mais de 13 mil peças arqueológicas que recolheu e organizou ao longo de décadas de trabalho. A autarquia, por seu lado, alega que o antigo edifício do Museu revelava inúmeros problemas de infiltrações e diz que está a recuperar exactamente uma antiga casa de Hipólito Cabaço para instalar um novo “Museu de Alenquer”, onde o espólio do arqueólogo terá o destaque principal.

Certo é que familiares de Hipólito Cabaço não se conformam com a forma como o assunto tem sido tratado. É o caso de António Hipólito Cabaço, neto do investigador, que não aceita que a necessidade de fazer algumas obras no telhado seja razão para fechar e para manter o museu com o nome do seu avô encerrado já há cinco anos. “Não é por infiltrações que se fecha seja que museu for. E não se fecha um museu porque é um elemento de estudo importante para jovens e adultos. Está ali um património arqueológico único que o meu avô foi descobrindo ao longo dos anos. E sentimos, de facto, uma grande tristeza, porque não passa pela cabeça de ninguém que se feche um museu porque há algumas infiltrações e o telhado precisa de obras”, lamenta António Hipólito Cabaço, em declarações ao PÚBLICO. 

O neto do arqueólogo alenquerense garante que todos os anos aborda o problema com os sucessivos presidentes da Câmara de Alenquer e que todos lhe têm prometido reabrir o museu no ano seguinte, sem concretizarem, depois, esse compromisso. “O meu desgosto é que não passa pela cabeça de ninguém fechar um museu durante tanto tempo, não resolverem e não concretizarem aquilo que dizem”, sustenta. 

Câmara planeia abertura de novo espaço em Dezembro
Já Rui Costa, vice-presidente da Câmara de Alenquer e responsável pelo pelouro da cultura, explicou, ao PÚBLICO, que o antigo Museu Hipólito Cabaço foi encerrado em 2010 “devido às más condições do edifício, que em nada valorizavam a colecção aí presente”. O autarca do PS lembra que o actual executivo camarário está em funções apenas desde Outubro de 2013 e que, entretanto, “decidiu, no âmbito da promoção cultural do concelho, apostar em alguns projetos de dimensão significativa, nomeadamente o realojamento da coleção Hipólito Cabaço”.

De acordo com o autarca, ao longo de vários meses, decorreram trabalhos de “esvaziamento” da chamada Casa da Torre (antiga residência de Hipólito Cabaço) com o objectivo de criar aí o “novo Museu Municipal de Alenquer”. Rui Costa acrescenta que a coleção Hipólito Cabaço “será então realojada neste equipamento museológico, sendo, inclusive, a principal atracção do mesmo, devolvendo-lhe a dignidade que todos certamente reconhecerão”. O vice-presidente da autarquia alenquerense revela, também, que o futuro museu terá 10 salas com exposição: sete de exposição permanente e três de exposição temporária. “A Colecção Hipólito Cabaço ocupará as seis salas principais da Casa da Torre, num circuito que, com o apoio das peças, contará a história do concelho. É a coleção principal do museu, complementada com uma sala para o Museu do Presépio e duas para exposições temporárias, a juntar ainda a uma sala polivalente/ multiuso no primeiro andar”, salienta, frisando que decorrem obras de adaptação e que a Câmara projecta inaugurar este novo Museu Municipal em Dezembro próximo.

Espólio tem sido “maltratado”
“Ver para crer, como São Tomé”, é o comentário de António Hipólito Cabaço a esta informação do executivo camarário, lembrando outras promessas que já ouviu em anos anteriores. “É evidente que o nome e o trabalho de investigação do meu avô têm sido maltratados em Alenquer. É uma obra que, em qualquer parte do Mundo seria de louvar. Na minha terra está fechada”, lamenta o neto do investigador, que considera que a atitude da Câmara, se não tinha mais meios, deveria ter sido distribuir a verba que atribuiu ao Museu João Mário pelos dois museus e tratar de garantir que o Museu Municipal Hipólito Cabaço também permanecia aberto.


fonte: @edisonmariotti #edisonmarioti http://www.publico.pt/local/noticia/ha-milhares-de-pecas-arqueologicas-esquecidas-num-museu-fechado-ha-anos-1698014

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